Que atire a primeira pedra quem nunca ouviu ou falou alguma coisa preconceituosa em rela-ção ao ambiente universitário -- ainda mais em relação aos jovens cristãos! Afinal, é ali que se aprende a questionar, e isso só pode significar perigo, certo? Talvez, mas então seria necessá-rio aumentar as restrições: internet, televisão, música, relacionamentos... Há quem chegue a extremos assim, insistindo para que os jovens vivam em uma redoma feita de dogmas indiscu-tíveis e padrões inalcançáveis. Porém, também há quem proponha um estilo de vida pensante, estimulando a reflexão e não permitindo que o jovem simplesmente “engula” o que lhe é dito. A preocupação de que o jovem se desvie ao entrar na universidade é pertinente, pois isso de fato acontece, e não são poucos os casos. Contudo, talvez a “culpa” não seja só do jovem. Du-rante sua caminhada cristã, ele foi estimulado a pensar? Se não foi, é natural que tenha confli-tos ao aprender que o mundo não é feito de verdades únicas e definitivas, que somente repetir algo dito por outro não é suficiente e que versículos decorados e orações fervorosas não vão resolver todos os problemas.
É interessante que muitos universitários não acostumados ao ambiente eclesiástico fazem per-guntas relevantes quando diante de ensinamentos bíblicos: “De onde vem a Bíblia?” “Por que eu devo acreditar no que ela diz?” “O que a torna interessante?”. Infelizmente, dentro da igre-ja poucos se fazem tais perguntas ou têm permissão para fazê-lo, pois questionamentos assim não raro são interpretados como falta de fé. Porém, a pergunta que não quer calar é: de que adianta uma fé cega? O cristão que assume uma postura pedante como dono da verdade talvez não consiga mais do que “irmãos” que concordam com suas ideias e antipatizantes que não entendem como em pleno século 21 ainda tem gente capaz de ser tão simplória. E como é possível evangelizar quando a comunicação é limitada à pretensa “verdade” que se espera ser aceita de imediato?
A dimensão do problema é ampla e afeta diretamente o jovem e, consequentemente, a igreja. Sem reflexão não há esperança de uma fé viva, que faz sentido e contagia outros. “Deixem-nos pensar” é o grito calado de muitos jovens de hoje, que não querem ser vistos apenas como rebeldes cujas “rédeas” dogmáticas ainda não estão bem presas. Se a fé -- que continua sendo inexplicável, transcendente e pessoal -- não for sinônimo de ignorância, mas envolver coerên-cia e consciência no processo de se relacionar com Deus, há de se considerar uma futura gera-ção mais preparada para liderar a igreja, questionando seus moldes e buscando fazer uma dife-rença que alcance a sociedade, inclusive a pensante.
O desafio de ensinar a pensar pode até ter proporções gigantescas, mas não é impossível. Que a igreja não subestime os jovens, mas ajude-os. Que a universidade seja algo almejado, não só porque a sociedade profissionalizante de hoje o exige, mas pela oportunidade do aprendizado, visto como algo positivo, enriquecedor, importante. Que movimentos universitários cristãos, como a Aliança Bíblica Universitária do Brasil, venham a crescer e contribuir com a criação de um espaço para a reflexão coerente da Bíblia inserida no próprio espaço acadêmico. E que Deus não deixe de desafiar e ensinar os jovens e igreja. São os devaneios de minhas jovens orações.
• Sara Grünhagen, 20 anos, cursa letras pela Universidade Federal do Paraná e teologia pela Faculdade Fidelis, em Curitiba, e está envolvida com a ABU da Região Sul.